As Propriedades Funcionais da Semente de Chia e os Benefícios do seu Consumo
- Fabia Bozzo
- 10 de jul. de 2018
- 4 min de leitura
A semente de chia (Salvia hispanica L.) é cultivada há séculos, e vem despertando bastante interesse em pesquisas devido a sua composição nutricional e características físico-químicas muito peculiares.
Um alimento é considerado funcional quando apresenta benefícios a uma ou mais funções do organismo, e, além das funções nutricionais, tem a capacidade de melhorar o estado de saúde e reduzir os riscos de desenvolver doenças (MARTÍNEZ, 2013). Dentre os alimentos funcionais, a Chia é reconhecida como importante fonte vegetal de ácidos graxos Ômega-3, de fibras alimentares, além de vários outros nutrientes e de compostos fenólicos com capacidade antioxidante (SARGI et al., 2013). O óleo das sementes da chia contém o maior percentual de ácidos graxos α-linolênico que se tem conhecimento (aproximadamente 68%), superando os óleos de girassol, perila e linhaça (MURILLO et al., 2013).

A chia (Salvia hispanica L.) é uma planta herbácea pertencente à família Lamianceae, originária do México. Sua semente foi largamente consumida pelos Maias e Astecas como alimento para aumentar a resistência física (COELHO; SALAS-MELLADO, 2014). Por questões religiosas, acabou desaparecendo por quase 500 anos, sendo hoje cultivada em diversos países, como Bolívia, Argentina, Equador, Austrália, Guatemala e México (CAMPOS et al., 2014).
Seu consumo vem sendo reintroduzido na dieta ocidental, a fim de melhorar a saúde humana, devido aos seus elevados teores de proteína, antioxidantes, fibras, vitaminas e minerais, mas principalmente por conter a mais alta proporção de ácido graxo α-linolênico, sendo considerada uma das fontes mais eficientes de ômega-3 para enriquecer alimentos (CAMPOS et al., 2014).
A baixa ingestão de ácidos graxos polinsaturados está relacionada à ocorrência de doenças cardiovasculares, diabetes e síndrome metabólica. Além disso, foi observado um efeito cardioprotetor dos ácidos graxos ômega-3 (ALI et al., 2012).
O interesse crescente no uso da semente de chia em preparações culinárias e na alimentação humana está, também, relacionado à sua capacidade de absorver e reter água, funcionando como um agente emulsionante (SPADA et al, 2014).
Por não conter glúten, a chia é uma alternativa ao trigo nas preparações para indivíduos celíacos, apresentando como diferencial a incorporação de ácidos graxos ômega-3, fibras, proteínas e minerais, vantagem significativa frente à maior parte das farinhas isentas de glúten que, por serem refinadas, apresentam baixa qualidade nutricional (GOHARA et al., 2016; HUERTA et al., 2016).
Por sua quantidade elevada de fibra, a semente de chia desempenha papel importante na saciedade e funcionamento intestinal. Somado a isto está sua capacidade antioxidante, por ser um vegetal rico em compostos fenólicos, e sua utilidade no controle da hipertensão arterial, dado seu alto teor de cálcio, potássio e magnésio (FERREIRA et al., 2015).
Além das propriedades metabólicas observadas, o emprego da chia na alimentação é bastante interessante, pois além de melhorar o valor nutritivo, apresenta grande capacidade de reter água e óleo, características que fazem dela uma candidata natural como aditivo para produtos panificados e como emulsão alimentar. Desta maneira, torna-se uma alternativa para as dietas com algum tipo de restrição, como ovos, trigo e leite (SPADA, 2014).
Desta forma o conteúdo nutricional da semente de chia possui diversas propriedades funcionais, destacando-se o desenvolvimento cerebral e visual de fetos e crianças, a prevenção de eventos cardiovasculares, sua potente atividade anti-inflamatória e antioxidante, e sua eficácia na redução da esteatose hepática e resistência à insulina, comprovando seus efeitos benéficos sobre a saúde humana.
A substituição de ingredientes usualmente utilizados pela semente de chia é uma estratégia interessante no intuito de acrescentar valor nutricional às preparações, se valendo das suas propriedades funcionais.
REFERÊNCIAS ALI, N. M.; YEAP, S. K.; HO, W. Y.; BEH, B. K.; TAN, S. W.; TAN, S. G. The promising Future of Chia, Salvia hispanica L. Journal of Biomedicine and Biotechnology, v. 2012. CAMPOS, M. R. S.; SOLÍS, N. C.; RUBIO, G. R.; GUERRERO, L. C.; ANCONA, D. B. Physicochemical characterization of chia (Salvia hispanica) seed oil from Yucatán, México. Agriculture Sciences, v. 5, n. 3, p. 220-226, 2014. CAMPOS, M. S.; CHI, Z. A.; RUBIO, G. R.; GUERRERO, L. C.; ANCONA, D. B. Whole and crushed nutlets of chia (Salvia hispanica) from Mexico as a source of functional gums. Food Science and Technology, Campinas, v. 34, n. 4, p. 701-709, 2014.
COELHO, M. S.; SALAS-MELLADO, M. M. Revisão: Composição química, propriedades funcionais e aplicações tecnológicas da semente de chia (Salvia hispanica L) em alimentos. Braz. J. Food Technol., Campinas, v. 17, n. 4, p. 259-268, out/dez. 2014.
FERREIRA, C. S.; FOMES, L. F. S.; SILVA, G. E. S.; ROSA, G. Effect os chia seed (Salvia hispânica L.) consumption on cardiovascular risk factors in humans: a systematic review. Nutrición Hospitalaria, v. 32, p. 1909-1918, 2015. GOHARA, A. K.; SOUZA, A. H. P.; ROTTA, E. M.; STROHER, G. L.; GOMES, S. T. M.; VISENTAINER, J. V.; SOUZA, N. E.; MATSISHITA, M. Application of Multivariate Analysis to Assess the Incorporation of Omega-3 Fatty Acid in Gluten-Free Cakes. J. Braz. Chem. Soc., v. 27, n. 1, p. 62-69, 2016. HUERTA, K. M.; ALVES, J. S.; SILVA, A. F. C.; KUBOTA, E. H.; ROSA, C. S. Sensory response and physical characteristics of gluten-free and gum-free bread with chia flour. Food Science and Technology, Campinas, v. 36, p. 15-18, 2016. MARTÍNEZ, G. M. Ensayao exploratório: obtención de leche caprina funcional a partir de la suplementación con Salvia hispanica (Chía). RIA, v. 39, n. 3, 2013.
MURILLO, R. V.; LEYES, E. A. R.; CANAVACIOLO, V. L. G.; HERNÁNDEZ, O. D. L.; AMITA, M. M. R.; SANABIA, M. L. G. Características preliminares del aceite de semillas de Salvia hispanica L. cultivadas en Cuba. Revista Cubana de Plantas Medicinales, v. 18, n. 1, p. 1-9, 2013.
SARGI, S. C.; SILVA, B. C.; SANTOS, H. M. C.; MONTANHER, P. F.; BOEING, J. S.; SANTOS JÚNIOR, O. O.; SOUZA, N. E.; VISENTAINER, J. V. Antioxidant capacity and chemical composition in seeds rich in ômega-3: chia, flax, and perilla. Food Sci. Technol., Campinas, v. 33, p. 541-548, July-Sept., 2013. SPADA, J. C.; DICK, M.; PAGNO, C. H.; VIERIRA, A. C.; BERNSTEIN, A.; COGHETTO, C. C.; MARCZAK, L. D. F.; TESSARO, I. C.; CARDOZO, N. S. M.; FLÔRES, S. H. Caracterização física, química e sensorial de sobremesas à base de soja, elaboradas com mucilagem de chia. Ciência Rural, Santa Maria, v. 44, n. 2, p. 374-379, Fevereiro, 2014.









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